por Bella Freud, estilista.
“No início da adolescência, quando já sentia as primeiras marolas do turbilhão de hormônios que viria nos anos seguintes, eu comecei a passar roupa para os meus vizinhos aos sábados, para conseguir um dinheiro só meu.
Nós morávamos no que havia sido parte de uma importante propriedade rural no coração de Ashdown Forest. Nossa casa era a antiga lavanderia, e os vizinhos moravam no que fora a cocheira. Era um casal de militares de reserva, muito simpático, mas que pertencia a um mundo totalmente diferente do nosso. Eu não tinha certeza se saberia passar as roupas direito, mas estava precisando de dinheiro para comprar… bem, qualquer coisa.
Joan, minha patroa, me levou até um quartinho no andar de cima lotado de peças amarrotadas. Ela mesma não parecia uma grande conhecedora das técnicas para usar o ferro de passar, mas a lição que me deu ali acabou sendo uma das mais úteis que já aprendi na vida: “Primeiro, vista a camisa na tábua e passe a pala e a parte de trás do colarinho. Depois, cuide dos punhos, seguidos pelas mangas. Passe as laterais em seguida, e volte para as costas. O derradeiro golpe [bem, talvez ela não tenha usado essas palavras] deve ser dedicado ao colarinho.” Eu segui as instruções ao pé da letra e descobri que levava jeito para a coisa. Depois comecei a improvisar um pouco, sem acreditar que a sequência mostrada por ela pudesse fazer tanta diferença – mas pude comprovar que fazia, sim! Foi como tentar mudar a rotina de um bebê: você troca alguma coisa e tudo fica confuso, não anda; é só cumprir as etapas na sequência certa que a simetria e a ordem imperam.
Logo, veio meu 13º aniversário, e os hormônios saíram de controle. Leonard Cohen gritava nos auto-falantes. Mas, quando me debruçava na tábua de passar roupa, tudo ganhava ordem e método: pala, colarinho, punhos, manga, laterais, costas… e colarinho de novo! Eu era uma boa passadeira, tinha orgulho de sê-lo e, estranhamente, passar roupa me fazia bem. Quando mais tarde virei punk rocker e fui morar em Londres, às vezes, enquanto esperava a hora de ir para a boate, eu resolvia dar a mim mesma um presentinho especial e abria a tábua de passar.”